quarta-feira, 28 de setembro de 2011

ME CONTA UMA HISTÓRIA 1

Por: Delly Danitza Lozano Carvalho
“É no momento em que o sujeito está o mais centrado em si que ele menos se conhece; e é na medida em que se descobre a si mesmo que o sujeito se situa num universo e constitui este em razão desta descoberta. Em outros termos, egocentrismo significa ao mesmo tempo ausência de consciência de si e ausência de objetividade, enquanto a tomada de consciência do objeto e inseparável da tomada de consciência de si.”
LA TAILLE, 1994.
Quando se fala de moral, muitas vezes lembramos das reflexões filosóficas que promovem análises intelectuais, por vezes polêmicas sobre as ações do ser humano, que tem como objetivo final construir uma consciência moral.
Como costumo dizer aos meus alunos, se os processos reflexivos e os estímulos externos dessem conta das mudanças no ser humano, muitas reflexões, discussões e informações que correm na mídia, na sociedade e outros, seriam suficientes para uma formação moral do indivíduo.  Devo destacar aqui que não estou questionando a importância destas discussões, porém destaco que só elas não dão conta da formação moral.
Em todos os grupos (diversas faixas etárias e sociais) precisamos de meios que nos permitam reflexões coletivas e reflexões individuais, que nos ajudem a adquirir uma consciência sobre nós mesmos, que é uma etapa importante para o crescimento e desenvolvimento moral. Só esta consciência permitirá a consciência da objetividade, da possibilidade da consciência do coletivo, do ver no outro a dor e alegria que poderia ver e sentir em mim.
Os instrumentos que têm sido utilizados cada vez com maior frequência são o ‘Contar Histórias’ e ‘Trabalhar com Imagens’, objetivando promover o processo reflexivo interno.
- Contar Histórias? Perguntou-me uma aluna numa certa ocasião em que conversava sobre o assunto, com um grupo no fim de uma aula.
- É isso mesmo, contar histórias, contos e outros.
Esta mesma surpresa vi estampada no rosto de alguns pais, quando exploramos as possibilidade de permitir que os próprios filhos reflitam sobre os assuntos complexos e polêmicos do âmbito familiar, através de histórias contadas por eles mesmos.
Bem, pensemos um pouco o que acontece quando nós nos acomodamos confortavelmente diante de um sofá e lemos, ouvimos ou assistimos uma história bem contada. Percebamos como aos poucos cada um vai entrando na história e apropriando-se das personagens de modo a sentir empatia, raiva, solidariedade, comiseração, entre outros sentimentos que nos identificam com alguma ação que este personagem esteja realizando ou sofrendo passando.
Este processo de identificação, mesmo que pequeno, é o que nos faz chorar e rir, torcer contra ou a favor dos acontecimentos da história. Ou você nunca se pegou falando com um personagem, incentivando-o, recriminando-o, tentando que se atente a realidade dos fatos... enfim, interagimos, mesmo que seja só em pensamento  com um, uns ou alguns dos personagens.
O fato de poder interagir com estes personagens, faz com que no mundo da ficção possamos lidar com possibilidades que no nosso universo real não viveríamos, ou por realmente não sermos expostos a este tipo de ações , ou por negarmos a possibilidade de lidarmos com as mesmas. De qualquer forma, no universo do imaginário, podemos arriscar pensar, lidar e dar possíveis soluções a situações simuladas. Dependendo como for conduzido este instrumento do imaginário, podemos passar a compreender melhor a nós mesmos, nossos sentimentos, nossas angústias e as nossas satisfações e assim provocar um processo reflexivo, mesmo que embrionário do como seria nosso comportamento em tal ou qual situação, elaborando respostas diante das possibilidades num ranking de “valores”, passando a organizar e reorganizar os nossos valores diante diversas situações.

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